O emigrante português
Existem várias sub-espécies de emigrantes portugueses. O mais recente, da qual faz parte o meu camarada, foda-se camarada não, colega Bell, é o emigrante educado. É o emigrante que aproveita o facto de saber português, inglês e linguagem gestual, e ter uma licenciatura em gestão ou engenharia para ir dirigir a filial da multi-nacional numa terra longinqua e ganhar um ordenado de jogador de futebol da II divisão de honra. Esta sub-espécie, pelo seu nivel cultural, está em constante contacto com a terra-mãe, mantendo-se a par de tudo o que se passa por cá e aproveitando a diferença de no nível salarial para comer umas gajas que, se não tivesse abandonado o país, nem sequer poderia sonhar com elas.
Mas a sub-espécie que eu quero ilustrar neste post é a do emigrante em França, vaga 1965-1975. Tive a oportunidade de acompanhar a evolução desta espécie desde o seu inicio.
Primeira fase: maioritariamente analfabetos, os emigrantes abandonaram o país dentro da mala do carro, demonstrando grande sentido patriótico, deixando os seus compatriotas a lutar sozinhos contra a ditadura e pela ditadura contra os pretos. Foi a chamada acção de coragem: "os outros que se fodam, quero é salvar o coiro". Chegados a França, foram trabalhar nas obras, nas fábricas de peixe ou a limpar retretes. Tudo trabalhos que os franceses preferiram deixar para os portugas. As diferenças para os Ucranianos é que os Portugas eram uns idiotas chapados, sem formaçao de base e a viver em bairros de lata.
Segunda fase: depois de vários milhares de retretes limpas, lá conseguiram amealhar algum para sair da barraca e ir para o apartamento de 3 assoalhadas uma vez que, entretando, reproduziram-se como ratazanas. Começam as primeiras visitas ao país a bordo dos seus renaults 25 e peugeots 405. Portugal encontra-se atrasado no seu desenvolvimento em relação a França, e espelha-se tanto no parque automóvel como no comércio e nos serviços. Mas não tanto como os emigrantes o vêem. "Em França isto não é assim, em França temos isto e aquilo, em França não há lixo no chão". Não há nos sítios onde não há emigrantes. Os limpadores de retretes julgam-se superiores, tem uma visão de que alimentam os que cá ficaram. As festas do emigrante são o ex-libris de uma sub-cultura mediocre e pretenciosa.
Terceira Fase: O poder de compra dos portugueses começa a melhorar. as motorizadas desaparecem dos parques das fábricas e anda tudo de carro. O crédito particular ultrapassa o das empresas. Explodem os shoppings e hipermercados por todo o lado. Os emigrantes continuam a vir nos seus renaults 25 e Peugeots 405 a cair aos pedaços, os filhos já não vêm porque entretanto casaram com franceses ou pior, com argelinos e deram ao emigrante o prazer de ter netos mestiços. Muitos morrem pelo caminho. Muitos cagalhões depois, alguns conseguiram amealhar para construir uma casa na aldeia natal e voltam. Desenquadrados com o meio local e sem nada para fazer, metem-se nos copos e fodem as mulheres de pancada.
Quarta fase: Os que nao morreram de cirrose ou acidente de carro, morrem de velhos, longe dos filhos, na pátria construida com muito do seu dinheiro como uma puta mantida num apartamento à distancia e visitada uma vez por ano.
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