quarta-feira, janeiro 14, 2004

A auto-estima

A auto-estima
Caros leitores, após um merecido período sabático decidi voltar. O que estive a fazer entretanto não vem ao caso, e é provável que só vos interesse caso trabalhem no Ministério Público (Panascas de merda! Não me apanharão!) ou no Correio da Manhã (sou pedófilo! e depois?! que raio de implicância! cabrões de moralistas mercenários...).
Hoje vou dedicar-me ao cada vez mais estúpido tema da auto-estima dos portugueses, que tanto tem, e tão mal, ocupado o espaço da discussão nacional.
Por que raio estão tão preocupados com a puta da auto estima!? Desde quando é que nós temos sequer auto-estima!? A auto-estima é uma paneleirice como outra qualquer, só que ao contrário da paneleirice da auto-comiseração, essa sim bem nossa conhecida, a auto-estima é uma paneleirice que nos querem inculcar sabe-se-lá por que carga de água e, por isso, é o pior tipo de paneleirice: a paneleirice saloia. Pedirem-nos para ter auto-estima é como nos pedirem para usar sapatos italianos: Foda-se! desde quando é que isso se usa!? Que raio de moda é essa!? Que proveito tiramos aliás da auto-estima? Passaremos a consumir mais bens nacionais, dirão, afoitos, alguns. Foda-se eu quando se me aumenta a auto-estima apetece-me é logo umas cervejas belgas e uns queijinhos dinamarqueses, já quando ouço duas ou três notícias a respeito do IP4 compenso a vergonha de ser português com uns depressivos tremoços e umas Super Bock.
"Trabalhamos com mais afã!", já ouço os mais rabetas afirmar felizes. Ser paneleiro é triste por isso, além da sensação de desconforto ao sentar toldam-se-vos as ideias. Eu quando estou com a auto-estima em alta mando o trabalho saudavelmente às malvas e vou mas é procurar a esplanada mais próxima para lhe dar com afã nos Bitter Camparis. Em contrapartida não há nada mais produtivo do que uma boa costureira à máquina do Vale do Ave...deve ser da vida estimulante que levam a ler Agostinho da Silva e a ver reposições das comemorações do 10 de Junho.
A auto-estima está para um Português como a higiene está para um Cabo Verdiano. Há coisas que simplesmente não foram feitas para ser assim.
Do que nós precisamos é de mais auto-comiseração. De mais gáudio e afirmação na mediocridade. Começa a chatear-me sermos os "mais" pedófilos de todos...foda-se, estava-se melhor com o costumeiro..."somos muito pedófilos mas ainda há dois ou três países que nos batem"... Defendamos o cinzentismo e a mediocridade como produtos protegidos e tipicamente portugueses, quer isso tenha algum interesse ou não, façamo-lo só porque nos apetece, por puro gozo. Portugal funciona melhor, tem mais piada, é mais original assim. Quando ouço alguém dizer que iremos ser um país de topo na Europa quanto à celeridade da justiça, à defesa do ambiente, ao desenvolvimento sustentável, etc...fora o absurdo que isso seria de tão impossível, dá-me vontade de perguntar: porquê?! por que raio!? quem daqui quer ser Sueco!? Eu não!

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