Vacas há muitas
Eu gostava de ter uma vaca, assim como quem tem um cão. Escovava-lhe o pêlo, ia dar longos passeios na praia com ela, comprava-lhe biscoitos e, à noite, víamos as duas os "Olhos de Água". (...)
Talvez esta seja uma pista possível, um caminho novo ainda por explorar, o de trazer para casa animais domésticos de grande porte. É que já não se pode com os cães: toda agente tem um Labrador ou um Husky que, além de darem imensas chatices, não nos dão leite nem nenhuma paz de espírito.
Margarida Rebelo Pinto
Margarida: Já somos dois. Eu também gostava de ter uma vaca, mas a minha seria ainda melhor do que a tua. Eu queria uma que soubesse escrever. Não uma vaca daquelas que julga que sabe e engana o povinho com as capas dos seus livros todos coloridos, com páginas que se leêm em menos de um minutos e uma mensagem tão profunda como uma novela mexicana. Essa vacas não me servem. Nem me refiro a essas vacas pretenciosas, que até têm escolas de escrita na Internet onde aproveitam, não só para publicar crónicas com as suas frustrações de vaca encalhada, mas também ousarem comparar-se a grandes escritores da lingua de camões. Eu quero uma vaca tenrinha, quase vitela, não uma vaca velha, azeda e amargurada com todos os bois que lhe passaram pela frente, ou melhor, por trás.
Mas Margarida, uma coisa eu não percebi. Porque é que querias um cão que desse leite? Porquê a fixação no leite? É que se não fosse por isso eu recomendava-te em vez da vaca o cavalo que sempre teria outras utilidades para ti... como montares nele e dares um passeio pelo guincho. No que respeita ao leite, tal como diz um padre que eu conheço: Quando queremos muito uma coisa ela acontece. Por isso Margarida agarra-te ao cavalo e grita eu quero leite, repetidamente, e quem sabe um milagre acontece.
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